Produtores de Vinhedo investem no cultivo de uvas de castas nobres para elevar padrão de qualidade do vinho regional
A Expovinho, que acontece na Festa da Uva de Vinhedo, terá este ano uma novidade que marcará um divisor de qualidade nos vinhos produzidos na região. Pela primeira vez será apresentado um vinho produzido com uvas Shiraz, espécie de origem francesa famosa pela alta qualidade na produção de vinho. A Shiraz é proveniente da região francesa de ‘Cotes du Rhône’, onde é produzido um dos vinhos tintos mais afamados daquele país – o ‘Châteuneuf-du-Pape’ (ou ‘Vinho dos Papas de Avignon’).
Neste ano os produtores colheram este ano 1.200 quilos da uva Shiraz nas lavouras da região, com perdas de apenas 5% graças às novas técnicas de cultivo protegidas por plasticultura. Mas o vinho feito com a casta nobre francesa que estará na Expovinho foi produzido com a colheita do ano passado, quando houve perda de 60%. “Apesar da perda conseguimos colher em um período favorável, que resultou em boa qualidade dos frutos”, conta Adilson Amatto, presidente da Associação dos Vitivinicultores de Vinhedo (Avivi), que promove a Expovinho. “Este ano tivemos que antecipar a colheita por causa do excesso de chuvas, alta umidade e calor abafado, mas vamos tentar nova colheita em meados do ano, para melhorar as características do produto”, antecipa.
A Shiraz foi plantada no sítio de Antonio José Benvegnu, o “Zé da Pinta”, na divisa com Louveira. A cobertura plástica evita a podridão nos cachos e reduz a umidade, melhorando a qualidade dos frutos . A cobertura fica em cima das parreiras, evitando que a chuva e o orvalho molhem os cachos e folhas, irrigando apenas o solo. O processo é chamado de Cultivo Protegido por Plasticultura e tem apoio financeiro e orientação técnica de institutos de pesquisa do Governo do Estado.
Segundo Adilson Amatto, até os institutos de pesquisa ficaram surpresos com o resultado da produção em Vinhedo. “Quebramos um paradigma e queremos agora criar um vinho fino com característica da região, que sirva de referência turística da região” completa.
A produção de uva Shiraz deste ano deve render cerca de 800 garrafas para a FUV de 2010. Na festa deste ano serão ofertadas apenas 200 garrafas do vinho, produzido com cerca de 500 quilos de uvas colhidas no ano passado.
Tradição
“O vinho é sempre produzido com uvas colhidas no ano anterior”, esclarece o pioneiro Carlos Ferregut, de 77 anos, do famoso vinho do 'Sr. Carlos', que participa da Festa da Uva desde sua primeira edição, em meados do século passado. 'Seu' Carlos produz vinhos com a uva Isabel, uma variedade desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e bem adaptada à região, e também Pinot Noir, Pinotage, Merlot, Cabernet Sauvignon e Bordô. “A Isabel tem casca mais grossa e suporta mais as chuvas”, diz, mostrando as uvas de cor intensa. Com planejamento e escalonamento da poda nos parreirais consegue produzir uvas o ano todo.
O processo de produção do vinho começa com uma seleção prévia dos frutos que serão processados. São colocados então na desengaçadeira para separação dos galhos, e na sequência em tanques de fermentação. Ali as casas são mexidas três vezes ao dia para que as cascas que sobem à superfície não sequem. O tempo de fermentação depende do tipo de uva. A Isabel demora cerca de seis dias. Vinhos finos exigem mais tempo na primeira fermentação, até duas semanas , até o vinho ser retirado e colocado em tonéis de inox, onde ocorrerá a filtragem.
O processo de filtragem é acompanhado de uma fermentação lenta que obriga a troca de tonéis por três a seis vezes, em espaçamentos de vinte dias a cada troca. Depois o vinho é colocado em grandes garrafões de vidro, onde periodicamente também é remanejado para outros. 'Seu' Carlos possui um tonel de 1.500 litros, dois de mil litros, sete de 500 litros e um de 350 litros para essa operação de transbordo, e produz por ano de sete a oito mil litros de vinho de espécies variadas.
“A diferença do suco e vinho é a mesma da água e vinho”, explica com sabedoria 'Seu' Carlos. Para a produção de suco de uva os frutos são separados inteiros dos cachos e colocados para lavar até retirada de todas as impurezas. Depois são colocados em um equipamento dividido em três partes: na inferior vai a água que irá ferver, na intermediária, vazia, passa o vapor que irá aquecer os frutos colocados na parte superior.
“É produzido em Banho Maria e fica exatamente uma hora até abrir a torneira”, conta 'Seu' Carlos. Essa destilação resulta no suco que é transportado por uma mangueira até uma panela onde será resfriado. “Quando o hidrômetro marca de 85° a 90° é colocado nas garrafas e imediatamente fechado”, explica, acrescentando que não é utilizado açúcar, conservante ou qualquer outro produto químico. “Com a garrafa bem fechada não tem perigo de estragar”, garante.
