Uma festa que já foi genuinamente popular vem perdendo o brilho nos últimos anos por causa da apropriação indevida por políticos locais. Muitos comerciantes deixaram de contribuir e participar indignados com a exploração da comemoração da lenda mais famosa de Campinas: o Boi Falô.
A festa organizada este ano, a 15ª ininterrupta, reuniu menos de duas mil pessoas. Em anos anteriores o evento chegou a reunir mais de cinco mil participantes.
O sub prefeito “deu uma de Miguel”, na função de mestre de cerimônias, elogiou a contribuição do vereador Thiago Mauricinho Ferrari com o som do palco, o que ‘garantiu’ a realização do evento (é correto um funcionário público fazer política eleitoral antecipada usando a máquina pública? Segundo consta, é a prefeitura que ‘organiza’ o evento. Com a palavra o Ministério Público e juízes do TRE).
Nem uma palavra para as dezenas de comerciantes que contribuiram com a compra de 1.700 camisetas, com a doação do macarrão e da sardinha, nem aos voluntários que todo ano se dedicam a cozinhar e servir o povo ou aos artistas que se apresentam gratuitamente.
Por causa do descontentamento de muitos o vereador teria prometido que não compareceria este ano. Estava lá dando entrevista para a imprensa e posando como 'dono' da festa. Mais uma promessa, entre tantas, não cumprida.
O Boi Falô
A lenda remonta de 1988, quando o escravo Toninho, forçado a trabalhar numa Sexta Feira Santa, obedeceu e, chegando ao pasto o boi olhou para ele e disse: “-Toninho, hoje não é dia de trabalhar, hoje é dia de se guardar”. O escravo correu e contou o que havia sucedido e, naquele dia, ninguém trabalhou.
A lenda remonta de 1988, quando o escravo Toninho, forçado a trabalhar numa Sexta Feira Santa, obedeceu e, chegando ao pasto o boi olhou para ele e disse: “-Toninho, hoje não é dia de trabalhar, hoje é dia de se guardar”. O escravo correu e contou o que havia sucedido e, naquele dia, ninguém trabalhou.
O Barão Geraldo de Rezende, que era homem descrente, virou rezador e Toninho virou escravo doméstico, trabalhando dentro da casa até sua morte, quando foi enterrado ao lado do Barão Geraldo de Rezende, por seus serviços prestados à família. O túmulo do escravo Toninho é um dos mais visitados no Dia de Finados, principalmente por pessoas que acreditam alcançar uma graça.
A festa do Boi Falô é realizada todo ano desde então, por ocasião da Sexta-feira Santa, sempre com uma macarronada ao molho de sardinha servida ao povo. Há quinze anos os baronenses Zé Barbuti e Atílio Vicentim decidiram cozinhar 40 quilos de macarrão para o povo preservar a tradição iniciada com a família do Barão Geraldo e lembrar a lenda do distrito. Atualmente são servidos mais de 500 quilos e Tinho Barbutti, filho do pioneiro, ainda cozinha o macarrão.
A igreja católica apóia e o padre benze a comida antes de ser servida, que o povo acredita ter poderes curativos.
"Fecha corpo"
Incomodados com a interferência indevida na festa popular um grupo de baronenses realiza paralelamente na Sexta-feira Santa a festa do “Fecha Corpo”, onde é servida uma cachaça com seis tipos de ervas e catuaba para evitar maus fluídos.
Alguns que ainda participam do Boi Falô passam por lá antes para tomar a proteção.
Alguns que ainda participam do Boi Falô passam por lá antes para tomar a proteção.
O evento é realizado na Real Bebidas Scavassa há seis anos por um grupo de amigos. A turma da 5ª do Fubá é frequentadora assídua e o proprietáro do local, Antonio Scavassa, serve pão ao molho de sardinha. Cerca de 500 pessoas participaram.