quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sociedade exclui e ignora


“Ligeira”, “trecheiro”, mendigo, indigente, pedinte, miserável, sem teto ou simplesmente morador de rua. Não importa a denominação, mas sim a condição de vida que possui um contingente incalculável de pessoas alijadas, marginalizadas, excluídas do convívio normal, e na grande maioria discriminadas, desprezadas e rejeitadas pela sociedade.

É uma população que cresce a cada dia como resultado inevitável do sistema capitalista copiado do modelo americano onde os vencedores ficam ricos e os perdedores são simplesmente descartados da mesma forma que produtos de consumo com validade vencida. A reportagem da “Folha de Vinhedo” foi investigar a realidade dos moradores de rua da cidade e encontrou pessoas frágeis, desiludidas e, invariavelmente, com problemas emocionais e de consumo de drogas, principalmente alcoolismo.

Um resultado que era esperado e não revelou muitas surpresas. Mas o trabalho desenvolvido pela Promoção Social na tentativa de resgatar essas vidas perdidas para o álcool, e o envolvimento de outros setores do poder público e entidades para atendimento a essa população, se revelou bastante interessante. Surpresa mesmo surgiu na entrevista do repórter Bruno Matheus com o morador de rua mais ilustre de Vinhedo, ícone e herói dos desgarrados do convívio familiar e social 'normal': Mané Borges, homem que ganhou na loteria e terminou nas ruas, venceu o álcool e hoje diz que vive feliz com sua condição.

O que mudou a vida de Mané Borges foi a fortuna repentina inesperada, e a dos outros moradores de rua a miséria gradativa e anunciada. O combustível para a jornada às sarjetas foi, para 95% dos casos, o alcoolismo. Daí surgiram a desagregação familiar, profissional e social. As desilusões amorosas fazem parte da maioria das histórias destes moradores como justificativa para a situação em que se encontram.

O resultado de recuperação dos moradores de rua pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), de mais de 60%, é bastante expressivo, principalmente por se tratar de uma população resistente a mudanças em seu modo de vida, tanto por aqueles que escolheram essa opção, como pelos que não acreditam mais na possibilidade de voltar a integrar a sociedade. Os poucos que tentam enfrentam grandes dificuldades para reinserção no mercado de trabalho e são diariamente tentados a recaídas no alcoolismo.

A mudança de olhar da sociedade em relação a essas pessoas poderia ajudar bastante a facilitar o caminho de volta, mas a resistência parece ser muito maior que a daqueles que querem deixar as ruas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário