sábado, 28 de março de 2009

O comércio da morte


Todo mundo tem medo de morrer. Morrer pobre então é um desespero. Na tentativa de garantir uma morte mais digna, mesmo na pobreza, milhares de pessoas são seduzidas pelo plano funeral, uma espécie de consórcio da morte combinada com a poupança da passagem para o outro mundo, que também ninguém sabe se existe, mas muitos acreditam.

É um consórcio em que ninguém espera ser contemplado. O medo da morte se
justifica pelo mistério que ela envolve. É um mistério que muitos já tentaram explicar, mas ninguém convenceu totalmente ainda a maioria das pessoas. Se existe vida além da morte, se vamos para o céu ou inferno, se acaba ali a alegria ou o sofrimento de viver, ninguém sabe.

Uma coisa é certa: a vida é finita e começamos a morrer assim que nascemos, morremos um pouco a cada dia, mas só nos damos conta da falência da vida quando ela se esgota e se aproxima. A sabedoria está em viver a vida em plenitude, e aproveitar a dádiva concedida aos seres vivos pelo ser supremo que alguns chamam de Deus, e os ateus de biologia. O mistério da vida é tão intrigante quanto o da morte, mas não tão sinistro.

Um humor mórbido e envergonhado, domina as pessoas quando falam da perspectiva da morte. É como se rir afastasse um pouco a imagem tenebrosa do fim da vida. Para morrer basta estar vivo. A morte é a única coisa certa na vida. Só não há remédio para a morte. São inúmeras as frases prontas e ditados criados pela sabedoria popular para afastar o temor da morte, todos insuficientes para aliviar a angústia da morte certa.

Fazer desse sentimento um comércio é um bom negócio, mas é cruel pelo perfil do público que atrai, geralmente pessoas humildes que se preocupam em não ter o mínimo para a hora fatídica. Os valores cobrados ficam, literalmente, pela hora da morte. É um produto que o consumidor paga até o fim da vida, também literalmente, e não vai poder conferir a qualidade. É como comprar um terreno no paraíso. Já um terreno no cemitério é necessário, para se ter onde cair morto.

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