quarta-feira, 13 de maio de 2009

ÍCONE DO VOLUNTARIADO



A maioria dos casos de câncer infantil são decorrentes de fatores ambientais, geralmente de exposição materna ou paterna a pesticidas, metais pesados e outros agentes cancerígenos. O esclarecimento é da médica Sílvia Brandalise, presidente do Centro Boldrini, ícone do voluntariado e defensora incansável da assistência médica aos menos favorecidos. “Existe uma relação direta da idade dos pais que em algum momento sofreram mutações, com o maior tempo de exposição da criança no nascimento”, afirma, com base nas investigações científicas. “Apenas de 3% a 5% são de causas genéticas”, destaca.

Há mais de 31 anos na luta contra o câncer infantil, Sílvia afirma que é mulher “de um emprego só e de um marido só”. Até hoje é docente com dedicação exclusiva na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, onde começou a trabalhar como pediatra geral e passou a chefe de enfermaria pediátrica do Hospital das Clínicas.

O Centro Infantil de Investigações Hematológicas Dr. Domingos A. Boldrini, atualmente reconhecido no mundo todo, começou em 1978 como atividade ambulatorial em uma casa alugada na rua José Teodoro de Lima, 21, no Cambuí, em Campinas, onde funciona hoje o restaurante Dona Carlota. “Era uma casa literalmente vazia. Desde o início trabalhamos com voluntários, que montaram uma cantina para servir refeições aos pacientes e aos poucos fomos montando uma estrutura com doações de cadeiras, mesas e armários cedidos pelos acompanhantes”, lembra a doutora Sílvia.

Aos poucos o número de voluntários e de doações foi crescendo e o atendimento do Centro também. O Boldrini conta hoje com mais de 100 profissionais, entre corpo clínico e equipe multiprofissional, uma equipe de aproximadamente 400 pessoas voluntárias, além de 21 empresas parceiras e centenas de doadores permanentes.

Doações
Questionada pela Sociedade Amigos dos Animais pelo fato de o Boldrini receber doações do Rodeio de Jaguariúna, Sílvia lembrou de um fato ocorrido quando quis construir a atual sede em Barão Geraldo, um hospital que trata de milhares de pacientes: as entidades ambientalistas fizeram um movimento contra a construção, apoiadas pela Câmara dos Vereadores, e conseguiram embargar as obras porque seriam derrubadas algumas árvores onde haviam ninhos de passarinhos e os passarinhos seriam desalojados.

“Eu respeito todas as formas de vida. É claro que me preocupam as agressões aos animais, mas tive que pedir intervenção ao então prefeito Magalhães Teixeira com o seguinte argumento: os passarinhos têm outros galhos para se alojarem, mas as crianças com câncer não têm um hospital para se tratar. O prefeito mandou suspender o embargo e finalmente conseguimos construir o hospital”, lembra.

O Boldrini depende das doações para manter os tratamentos e as pesquisas. “O Hospital do Câncer de Barretos foi construído com doações do rodeio. Agradecemos a direção da festa de lembrar o Boldrini. Não significa que o hospital seja partidário ou estimule a agressão aos animais e, pelo que pude ver pela televisão o ser humano é que está em desvantagem ali, e me preocupa que o peão pode sofrer graves ferimentos. Os animais me parecem bem tratados”, avalia. Sílvia lembrou ainda que o Boldrini recebe muitas doações de pessoas condenadas pela Justiça, em penas e multas alternativas direcionadas por sentenças judiciais. “O Boldrini não julga os motivos das doações nem as pessoas ou entidades que vão doar”, garante Sílvia.

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