quarta-feira, 13 de maio de 2009

Leite materno contamina


O leite materno, considerado o alimento mais completo do ponto de vista nutricional, já que sua composição é tida como essencial para o bom desenvolvimento físico e mental dos recém-nascidos, é uma das causas de contaminação de crianças por substâncias que causam câncer e outros males patogênicos.

Uma tese da pesquisadora Cláudia Hoffmann Kowalski Schröder, da Unicamp, revela que o leite materno é bastante suscetível de contaminação pelas bifenilas policloradas (PCB), que são compostos organoclorados sintéticos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todas as crianças sejam alimentadas exclusivamente com o leite materno até os quatro ou seis meses de idade.

Essa alimentação exclusiva em uma fase em que alguns órgãos ainda estão em desenvolvimento torna os recém-nascidos o segmento da população mais vulnerável aos PCB, explica a pesquisadora, cujo estudo coletou 200 amostras de leite em Bancos de Leite Humano (BLH) de nove estados brasileiros, e reuniu questionários contendo 35 perguntas sobre hábitos alimentares, condições socioeconômicas, locais de habitação, entre outras, aplicados às mães que concordaram em participar da pesquisa.

Os resultados obtidos na análise das amostras e os dados extraídos dos questionários, devidamente correlacionados através de técnicas adequadas, levaram à constatação de que em cidades metropolitanas o acúmulo de PCB no leite materno é mais expressivo. Outra conclusão é a de que o leite maduro, que passa a ser liberado entre a 2º e a 3º semanas de amamentação e possui maior porcentagem de gordura, é o mais contaminado.
O estudo mostrou ainda que o primeiro filho normalmente recebe dose maior de PCB dos que o sucedem, o que sugere um efeito cumulativo dessas substâncias no organismo ao longo dos anos. Os maiores índices de contaminações verificaram-se no leite de mães que moram nas proximidades de indústrias ou rios poluídos, comprovando que esses compostos chegam facilmente ao meio ambiente e em seguida aos seres humanos.

A produção em escala comercial de PCB teve início em 1930 em empresas como a Monsanto, Bayer entre outras. Em 1966 esses compostos foram detectados pela primeira vez no meio ambiente e já na década de 70 sua produção e uso foram restritos e banidos na Europa e Estados Unidos. Até 1993, ano em que sua produção mundial foi interrompida, mais de 1,3 milhão de toneladas de PCB foram produzidas. A comercialização do PCB no Brasil foi proibida em 1981, mas seu uso é tolerado em equipamentos em funcionamento até que sejam desativados ou substituídos.

Nos seres humanos, a contaminação pode ocorrer por inalação, contato com a pele e principalmente por ingestão de alimento contaminado. Os PCB foram incluídos entre os dez poluentes com maior potencial de biotoxicidade e compõem a lista dos doze poluentes prioritários do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que tem como escopo a redução e a eliminação de poluentes orgânicos persistentes de elevada toxicidade.

Devido à sua natureza lipofílica, no caso das mulheres, ocorre um maior acúmulo desses compostos nas glândulas mamárias, e consequentemente, nos recém-nascidos por elas amamentados. A concentração encontrada no leite materno é, em média, de quatro a dez vezes maior do que aquelas detectadas no sangue. “Mesmo antes do nascimento o recém-nascido já é contaminado pela transferência dos PCB através da placenta", afirma a pesquisadora.

Como conseqüência as crianças podem apresentar calcificação anormal do crânio, pigmentação escura da pele e das membranas mucosas, hiperplasia gengival, baixo peso, anemia, crescimento reduzido e baixo QI. Além disso, as crianças com maiores níveis de PCB no organismo estarão mais propensas a problemas hepáticos, à imunossupressão, a neuropatias e ao aumento de risco de melanoma maligno, distúrbios respiratórios e do sistema nervoso central, alterações imunológicas e endócrinas.

A pesquisa mostrou também que o colostro e o leite de transição liberados nas primeiras semanas de amamentação - que possuem mais proteínas e menos gorduras - apresentaram menor contaminação que o leite maduro - que contém cerca de 4% de gordura - o que corrobora estudos já realizados em outros países.

Outra constatação é a de que as mães que amamentam pela primeira vez apresentavam o leite mais contaminado do que as mais que amamentaram outras vezes, o que comprova o efeito cumulativo do PCB no organismo da mãe ao longo da sua vida. Verificou-se, ainda, que quanto maior o tempo entre as primeira e segunda gestações, maior o re-acúmulo de PCB no leite.

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