quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Falácia da tecnologia da comunicação

Propaga-se aos quatro ventos que a tecnologia da informação está mudando radicalmente os meios de comunicações contemporâneos. É inegável a contribuição da informática nos meios de produção da informação, assim como a evolução da Internet e a capacidade de comunicações via satélite e dos celulares.

A redução dos preços das novas tecnologias também têm contribuído para sua popularização. Mas daí a considerar um avanço sem precedentes é muita pretensão, se forem considerados os produtos finais.

Realmente a tecnologia está contribuindo para ampliar os recursos de produção da informação, mas a engrenagem fundamental do sistema, o elemento humano, está perdendo seu espaço para máquinas tão ou mais suscetíveis a erros. E o pior, obrigando a uma dependência que muitas vezes significa grande atraso em relação aos métodos considerados “ultrapassados”.

Nada substitui a inteligência e capacidade de discernimento humanas quando se trata de veiculação de notícias. E o que se percebe em todos os veículos é a substituição do homem pela máquina, o enxugamento dos quadros de pessoal por computadores, como se os chips tivessem a capacidade de apurar fatos e descobrir notícias.

O resultado, tanto em jornais impressos como na mídia eletrônica (rádio, Internet e TV), é a padronização do noticiário, a pasteurização das notícias e o empobrecimento da informação. Basta assistir aos noticiários da TV ou comparar as primeiras páginas dos jornais.

Nos veículos convencionais de comunicação, de circulação regional, as notícias diferentes ou exclusivas raramente superam 30% do total. Se forem considerados os de circulação nacional a diferença não chega a 20%. Todos assinam as mesmas agências nacionais e internacionais e os textos e imagens são idênticos. Nos telejornais a semelhança é ainda mais gritante. A diferença às vezes se resume ao editorial. O noticiário é quase o mesmo em todas as TVs. O telespectador menos atento nem percebe que inexiste reportagem local.

Quando os jornais eram impressos no “chumbão” (linotipo), os leitores tinham acesso a notícias realmente quentes (sem trocadilho com chumbo derretido). O resultado da sessão da Câmara que terminou às 3h00 da manhã, o jogo que terminou às 23h30, a festa de inauguração que fechou a madrugada, o baile local, todos estavam lá impressos e noticiados nas páginas do matutino às 6h00 do dia seguinte.

Existia o “furo” (leva este nome por causa do tamanho da letra da manchete, que tinha um furo para ser parafusada na bandeja), fenômeno raro hoje em dia. E que emoção quando gritavam “parem as máquinas!”, para inserção de uma notícia de última hora.

Hoje ninguém pára a máquina. Se um fato ocorre depois das 18h00 dificilmente ganha espaço no noticiário do dia seguinte. Nos finais de semana é pior ainda: são publicadas apenas as notícias requentadas da semana, de sexta-feira e mínimas do sábado. O jornal de domingo é distribuído às 16h00 do sábado. Quando não atrasa porque caiu a rede, o equipamento “deu pau”, o telefone estava fora da área, a conexão com a Internet estava inacessível. Quem pára o homem é a máquina.

A ilusão de que a máquina é capaz de cumprir muitas das funções do jornalista, como edição, revisão, paginação, past-up e outras, gerou problemas. O principal deles é o acúmulo de funções do profissional, que tem cada vez menos tempo para seu trabalho básico: apurar e transmitir a melhor informação. Hoje o jornalista não tem mais tempo de fazer entrevista pessoalmente. Vai por telefone mesmo porque o “dead line”, cada vez mais antecipado, o exige. E a apuração sai capenga. É impossível sentir a emoção e o verdadeiro sentido das palavras do interlocutor com “boi na linha” do telefone, sem o tradicional cafezinho mano a mano com o entrevistado.

Os programas cada vez mais sofisticados e “pesados”, e os equipamento cada vez mais potentes e rápidos, com o argumento de que possuem novos recursos (a grande maioria jamais utilizados), exigem atualização constante de software e hardware que, somada com a manutenção, eleva o custo sem aumentar a produtividade.

Tome-se como exemplo o Word, um dos programas mais utilizados no mundo. É um ótimo recurso para edição de textos, e facilitou em muito a vida dos redatores, aposentando em definitivo a velha máquina de escrever. É atualizado constantemente, mas as primeiras versões cumpriam as mesmas funções básicas no velho 386. Hoje é necessário um Dual Core e muita memória para rodar o programa e os arquivos são enormes.

O caminho, no entanto, está correto e é irreversível, diante dos novos tempos. Mas o percurso para a qualidade ainda é muito longo.

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