quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Nem tão bucólica assim, mas ainda aprazível



Diziam, em tom jocoso de chacota, há cerca de vinte anos em Barão Geraldo, que após as 23 horas passava um homem pelado correndo pelas ruas do centro do distrito. A piada pretendia mostrar que, como não havia ninguém nas ruas, não havia testemunhas de tal fato. Realmente após esse horário o distrito estava deserto, e não havia estabelecimentos abertos.

Era impossível encontrar o que fosse para comprar ou fazer após esse horário, pois não havia bares, restaurantes e as atuais lojas de conveniência nem eram imagináveis. Mas ainda existiam vigias noturnos, que faziam a ronda de bicicleta pelos bairros, e que de tempos em tempos faziam soar um apito para tranqüilizar a população de que tudo estava bem.

No pacato lugarejo ainda se tomava a “fresca” em cadeiras postadas nas calçadas nas noites mais quentes de verão, e muitas famílias se davam ao direito de dormirem com as janelas abertas para aproveitar a suave brisa da madrugada. Os crimes eram muito raros, vez ou outra ocorriam pequenos furtos e desentendimentos familiares ou pessoais. E só!

Campinas já era uma metrópole e sentia os efeitos do desenvolvimento. Já existiam casas noturnas que varavam a noite e os crimes mais graves, como roubos, assaltos, seqüestros e tráfico, já eram freqüentes. Mas Barão Geraldo, ou Sousas e Joaquim Egídio, distritos mais isolados, ainda preservavam a tranqüilidade de pequenas cidades do interior. O sossego só era quebrado por eventuais festas de repúblicas de estudantes, reprimidas pela polícia acionada pela vizinhança.

Abrir novos empreendimentos em Barão era muito arriscado, principalmente bares e restaurantes. Casa noturna nem pensar. A população do distrito não prestigiava essas iniciativas por temor de perder a tranqüilidade. Foram inúmeros os empreendimentos que fracassaram por falta de clientes. Os moradores de Barão, quando queriam sair para passear, jantar ou se divertir, iam para Campinas, ou mesmo para São Paulo e outras cidades, mas não em Barão. O distrito era local para morar com sossego e tranqüilidade.

Mas os tempos mudaram, e o crescimento vertiginoso de Barão Geraldo e a proliferação de condomínios fechados fizeram crescer a necessidade de oferta de mais produtos e serviços para essa nova população. O aumento da violência em Campinas fez crescer a preferência pelas opções locais de compras e diversão. Afinal, é mais arriscado ir para a cidade do que ficar e se divertir no distrito, perto de casa. Há dez anos o distrito já contava com 26 restaurantes. Hoje somam 56.

O número de empresas e de novos empreendimentos em Barão cresceu gradativamente. A grande oferta de opções de lazer e entretenimento, hoje, atrai pessoas de Campinas e outras localidades, e até de São Paulo. Houve uma inversão do movimento.

O aumento da população e do comércio em Barão trouxe os mesmo problemas que Campinas já enfrentava há 20 anos. Que ironia pensar que a maioria da população que mudou para Barão nos últimos 20 anos foi atraída justamente pela tranqüilidade que o local oferecia.

Na falta de tranqüilidade, as famílias já não dormem de janelas abertas e as cadeiras nas calçadas para tomar a “fresca” são raras. Os condomínios cercam-se de robustos esquemas de segurança, nas casas instalaram-se alarmes e cercas eléricas e avigilância motorizada é intermitente.

O progresso, no entanto, é irreversível e tem suas compensações. O crescimento do comércio e serviços aumentou a oferta de empregos e novas oportunidades. Muitos moradores hoje têm a oportunidade de trabalhar em Barão e viver com melhor qualidade de vida. A renda das famílias cresceu e os empreendimentos foram consolidados.

Crescem a cada dia as opções de lazer, cultura, educação, saúde e conhecimento. Tudo o que soma condições à qualidade de vida. Centros tecnológicos atraem indústrias e movimentam o comércio. Além dos novos moradores de condomínios, cerca de 60 mil estudantes gravitam em torno das universidades, consumindo produtos e serviços.

Barão Geraldo é atualmente um bom lugar para morar e trabalhar, e reserva algumas vantagens de suas origens e também do progresso. A população é ordeira e hospitaleira, as pessoas se conhecem e o cidadão não é um anõinimo na multidão, o folclore é preservado nas festas populares, como o Carnaval (o melhor de Campinas com seus blocos nas ruas) e na festado “Boi Falô”.

As universidades dão perspectivas de futuro e crescimento para os jovens, os agitos da vida noturna já não incomodam o moradores, e a natureza generosa é tratada com respeito.

Essa nova realidade não significa que a vida ficou mais fácil, mas garante mais e novas oportunidades para todos que têm disposição para trabalhar e enfrentar as adversidades. Esse é o perfil do novo Jornal de Barão, que pretende ser mais um empreendimento a catalisar o desenvolvimento do distrito.

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