quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Para superar a crise é só tirar o “s”: crie

Para melhor entender a atual crise financeira mundial é necessário resgatar o histórico dos princípios da economia moderna, hoje globalizada.

A medida de riquezas de um País e seu poder de negociação era baseada em um lastro econômico, que tinha inicialmente o volume de ouro armazenado como referência.
Ou seja, era mais rico quem tinha mais ouro armazenado, o que era uma garantia de pagamento das despesas e investimentos. Com o aumento do comércio mundial e a industrialização a referência de riqueza passou a ser o volume de produção de bens, produtos que geravam divisas.

As negociações, tanto do lastro ouro como o de divisas e depois das ações de empresas no mercado de valores, sempre foram feitas através do papel que simbolizava esses valores, que supostamente estavam lastreados com os bens de valor correspondente.

A primeira grande crise financeira, o “crash” da bolsa de Nova Iorque em 1929, aconteceu porque o volume de negócios e valores já havia superado em muito o lastro correspondente, ou seja, os valores circulantes não tinham base sólida de garantia.

Essa primeira quebradeira, que não teve impactos maiores em outros pasíses do mundo porque ainda não existia a globalização e o mundo era dividido entre o capitalismo e o comunismo, deveria ter sido uma lição permanente para os Estados Unidos.

Mas não foi. O aumento da integração do comércio mundial e a notória liderança econômica dos EUA, concentrou um crescente volume de negócios em bolsas do mundo todo, com regras baseadas no mesmo princípio: a especulação financeira, ou seja, os valores passaram a ser aqueles de expectativa de produção e não mais dos produtos estocados.

É o mercado futuro, ou seja, aposta-se e se aplica recursos antecipadamente na produção maior e comércio que vai gerar lucros aos investidores. É um jogo, e como todo jogo sujeito a variáveis não previstas, como condições climáticas desfavoráveis às commodities, por exemplo.

O que aconteceu nos Estados Unidos e que deflagrou a crise atual, atingindo o mundo todo pela integração do comércio, foi o mercado de hipotecas imobiliárias.

Durante mais de uma década funcionou da seguinte maneira: o cidadão que possuía um imóvel ia aos bancos e tomava como empréstimo, com juros baixos e atraentes, o valor correspondente ao do seu imóvel, provável lastro, ou garantia, da operação.

Esse dinheiro alimentou o consumo, permitiu investimentos em negócios, criou empreendimentos e gerou empregos, o que permitiu um grande crescimento da economia.
A construção civil registrou um grande desenvolvimento e os imóveis foram super valorizados diante da possibilidade de emissão de mais e mais hipotecas.

Foi nesse ponto que começou o que os economistas chamam de “bolha”. Muito mais pessoas e empresas passaram a especular com os imóveis, que já não tinham o valor dos empréstimos concedidos, e começou a aumentar a inadimplência.

O remédio para a inadimplência, que deveria ter seguido o caminho da austeridade financeira, seguiu o caminho inverso. Foram emitidas as segundas hipotecas, para amortizar a primeira, e dar mais fôlego aos investimentos e consumo.

Nesse ponto começou a circular na economia um dinheiro que já não existia, pois não havia garantia de valor correspondente, ou seja, não existia o lastro.

A crise se tornou financeira porque os bancos que haviam emitido hipotecas já não conseguiam receber dos tomadores. Para continuar operando os bancos passaram a vender as carteiras hipotecárias às grandes financeiras, que emprestam aos bancos com base nessa garantia, já podre.

Deu no que deu. Quebraram os bancos e as grandes financeiras, com o estouro da “bolha”, atingindo o mundo todo pela expectativa de uma grande recessão na maior economia do mundo.
Resultado: hoje os governos estão socorrendo os bancos e os endividados norte americanos que passaram décadas consumindo produtos supérfluos e desperdiçando recursos com carros de luxo e gastando um dinheiro que não existia. E os contribuintes do mundo todo os socorrem.

Só aqui voltamos ao título: como superar a crise? Com criatividade, trabalho e produção, sem especulação. Se existe a possibilidade de lucro, que se lucre primeiro e com estes recursos invista em crescimento e mais produção, criando empregos e reanimando a economia e o consumo.

Se os capitalistas aprenderem essa lição a economia pode voltar à estabilidade tão almejada, e a pior crise, a social, pode ser que não tenha muito impacto.

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