quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Éramos anarquistas


Foi plantada a semente do bem, pensávamos, e na nossa prepotência imaginávamos mudar o mundo

Éramos felizes e sabíamos. Andávamos de pés descalços, roupas coloridas, longos cabelos, e vivemos um dia de cada vez, como se a vida fosse só hoje, sem pensar amanhã. As armas de nossa revolução foram as flores, a música e o amor. Imagine todas as pessoas vivendo apenas para ao dia de hoje. Imagine um mundo sem países ou fronteiras, e conseqüentemente sem guerra. Era assim que imaginávamos mudar o mundo.

Seguíamos, sem o saber ou identificar, princípios cristãos, budistas, islâmicos, comunistas, e principalmente libertários, anarquistas. Dividíamos tudo, coisas e pensamentos, com todos. Com a política de não violência seguíamos Ghandi, e corremos atrás também do encanto musical de Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Elvis Presley, Roberto e Erasmo, Gal, Gil, Bethânia, Chico, Caetano, Os Mutantes da Tia Rita, e tantos contemporâneos e muitos outros que os antecederam ou sucederam.

Foi plantada a semente do bem, pensávamos, e na nossa prepotência imaginávamos que íamos mudar definitivamente o mundo. Vamos mudar a ordem das coisas de tal forma organizada que não haverá mais poder central e todos vão poder decidir por tudo, sonhávamos.

Raul Seixas e John Lennon ajudaram a ampliar princípios anarquistas. Não jogávamos coquetéis Molotov, mas flores. Não pregávamos a violência, e sim o amor. Cristo já pregava a união comunitária e o desapego às coisas materiais. Nas concepções de Bakunin está claro que o anarquismo é um movimento transitório, intermediário nas mudanças revolucionárias, até que a situação se acomode em novo modelo de organização. O caos é o agente da mudança.

Vivemos um grande momento histórico e, como no anarquismo, foi transitório. Pensávamos em legar às futuras gerações todo esse conhecimento espiritual e consolidar um novo modelo das relações humanas, baseado na liberdade de escolha, na fraternidade e no prazer das emoções amorosas.

Não é possível precisar um momento ou período em que tudo desmoronou. Sem que percebêssemos o movimento esvaziou, pulverizou-se mesclado com outras culturas. O capitalismo triunfou transformando em produto de consumo as flores, a música e os amores, e seduziu os jovens a consumir para manter seu estilo de vida. As relações emocionais e espirituais foram dando espaço para desejos e necessidades materiais, e de sobrevivência.

O sonho acabou e muitas perguntas não querem calar.

Hoje somos apenas sobreviventes.

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