A moda agora é fazer compras ambientalmente corretas com sacolas retornáveis
Os hábitos de consumo alimentar do brasileiro mudaram bastante nos últimos ano. Por praticidade e conveniência hoje se consome muitos alimentos industrializados que usam embalagens plásticas e, pior, nas compras de supermercados, somam-se mais embalagens plásticas para o transporte. A cultura do consumo de sacolas plásticas consolidou-se e os consumidores levam para casa mais sacolas que o necessário para as compras, porque vão usá-las para outros produtos, e o destino final são os lixões, aterros sanitários e a própria natureza.
São justamente por isso as embalagens plásticas as grandes vilãs do meio ambiente na atualidade. Existe uma tentativa de obrigar o uso de sacolas biodegradáveis, mas aparentemente ainda não foi desenvolvida aquela que menos resíduos deixe na natureza. Difícil mesmo é reverter a cultura, mas algumas tentativas estão crescendo na sociedade.
Alguns supermercados estão oferecendo sacolas retornáveis, de pano, lona ou outro material, para os clientes, numa postura de triplo benefício: favorece o meio ambiente e a imagem da empresa, além de gerar economia no consumo de sacolas plásticas. É uma atitude lógica e eficaz, melhor que substituir por outro material descartável. Outros supermercados no entanto, adotam uma postura retrógrada e, além de oferecer mais sacolas que o necessário, ainda exigem que clientes coloquem suas sacolas retornáveis em sacos plásticos para entrar. As justificativas, equivocadas, são: estimular a compra de mais produtos e proteger a segurança. Nem todos que podem ter mais sacolas vão comprar mais e ninguém vai roubar nada com sacolas vazias.
Na década passada, com a inflação galopante, justificava-se as compras mensais e estoques em casa de produtos, porque no dia seguinte estariam mais caras. Foi o frenesi das maquininhas de etiquetas de preços e de compra de freezers para estoque de congelados. Com o fim da inflação e o advento do 'apagão' os freezers foram aposentados. Hoje as compras são semanais e mesmo diárias, e duas sacolas retornáveis comportam os produtos necessários.
Tecido não tecido
O pequeno e o médio varejo da região saem na frente ao adotar, como alternativa, embalagens retornáveis, transformando uma necessidade ambiental em uma poderosa ferramenta de “marketing”. Padarias, lojas de cosméticos, farmácias, quitandas e supermercados estão vendendo sacolas ecológicas retornáveis de pano ou TNT (Tecido Não Tecido) para os consumidores levarem suas compras. Os preços de sacolas de vários modelos variam de R$ 1,50 a R$ 27.
E não é só o segmento varejista que tem apostado na “onda” ecológica de restrição ao uso das sacolas plásticas convencionais. A Imprimus, empresa do ramo de impressão de Campinas, investiu na confecção de sacolas ecológicas para revender ao varejo da cidade e região. Ampliando esse movimento, a Kapa+ EcoEmbalagens, de São Paulo, tem parceiros que elaboram sacolas com garrafas pet, fio de fibra de bambu e de algodão.O Ponto Org, no rio de Janeiro, produz sacolas grandes com reaproveitamento de juta.
Agora é moda
O Sindicato da Indústria de Panificação de São Paulo, a Associação dos Industriais de Panificação de São Paulo e o Instituto de Desenvolvimento de Panificação e Confeitaria (IDPC) lançaram uma campanha para conscientizar a categoria e os clientes. Batizada Sacola Vai & Volta, ela é composta de folhetos explicativos. Para o presidente do Sindipan-Aipan-SP, Antero José Pereira, o objetivo é incentivar a participação das padarias em programas socioambientais para reduzir o uso de sacolas plásticas nos estabelecimentos de São Paulo. A meta da entidade é diminuir o total de 40 milhões de sacolas plásticas que vão para o lixo todos os dias.
Na rede Carrefour, a sacola reutilizável começou a ser vendida a R$ 2,99 desde o dia 7 deste mês nas lojas de São Paulo e do Paraná. Serão distribuídas 62 mil unidades. Até o fim do ano, a meta é investir em um estoque de 600 mil unidades e vendê-las em todo o País. A aceitação por parte dos consumidores foi positiva: a maioria delas já foi vendida. A meta é reduzir em pelo menos 10% o volume de sacolas plásticas utilizadas durante o ano.
Plásticos geram sérios problema ambientais
O descarte de plástico na natureza causa alarmantes problemas ambientais. Estima-se que a cada ano circulem no mundo mais de 500 bilhões de sacos plásticos feitos com materiais que apresentam cadeias moleculares inquebráveis e que duram até 450 anos. No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a partir da resina de polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico filme, que representam 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos impedem a passagem da água retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis e dificultam a compactação dos detritos.
Milhares de baleias, golfinhos, tartarugas e aves marinhas morrem asfixiados por sacos plásticos usados como recipiente de lixo (calcula-se que 90% dos sacos plásticos são descartados na natureza e acabam nos mares).
Atualmente existem sacos plásticos 100% biodegradáveis, que se dissolvem mesmo sem o contato com a água, como plástico biodegradável de origem bacteriana (produzido a partir da cana de açúcar) ou o plástico biodegradável obtido com a adoção de amido ou outros polissacarídeos. No entanto as embalagens produzidas a partir de plástico oxi-biodegradáveis é um material que ainda não comprovou a total eficácia ao meio ambiente em sua decomposição.
Segundo estudos do departamento de Tecnologia de Polímeros da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), conduzidos pela professora Lúcia Mei, testes até então realizados com plásticos oxi-biodegradáveis dão conta de que depois do processo de decomposição o material gera resíduos químicos ao meio ambiente. “Ainda não é possível afirmar cientificamente que os resíduos eliminados no processo de composição em nada afetarão ao meio ambiente”, disse.
No entanto, para a professora, a educação continua sendo a melhor arma para reduzir o impacto das sacolas plásticas no meio ambiente. “Na Europa onde a legislação obriga o uso de plásticos biodegradáveis, a população tem adotado a prática da compostagem do lixo orgânico caseiro. No Brasil isso deveria ser incentivado. Além de retirar boa parte do lixo dos aterros, produz-se o composto que pode ser usado como adubo natural”, disse.
A especialista ressalta ainda como alternativa a realização de uma coleta eficiente de plásticos, mas que leve em consideração o valor agregado do produto, seguido de um processo de reciclagem correto e que poderia, inclusive, ser uma alternativa de geração de emprego e renda.
Ela sugere também que mais estudos científicos sobre o assunto sejam realizados para que o país tenha dados estatísticos sobre a decomposição final dos plásticos oxi-biodegradáveis na natureza, ou seja, sua biodegradação. “Eu recomendo fortemente que o Governo banque tais pesquisas, financiando o credenciamento de laboratórios de pesquisa que possam responder diretamente a ele sobre esse importante tema”, disse.